Por Maria Cristina Rodrigues Fernandes (*)
Vera chegou em Lucas do Rio Verde na década de 1980, antes da emancipação política de nossa cidade. Formada em Jornalismo, casada e grávida de sua primogênita, decidiu, junto com seu esposo, fixar residência neste município, que era, na ocasião, apenas uma vila, com poucas casas de madeira e muito cerrado. E é aí que a história começa…
Lucas do Rio Verde é uma cidade que nasceu de um assentamento. Pessoas oriundas de São Paulo, que tinham o intuito de construir aqui a Holambra III, projeto que fracassou, por inúmeros motivos, principalmente políticos, e pelos assentados da Encruzilhada Natalino, além de algumas famílias de posseiros que haviam se estabelecido na região a partir de meados da década de 1970.
Para tornar nosso relato mais breve, podemos pontuar que várias famílias do Sul e Sudeste receberam propriedades para se estabelecerem no distrito. Após a instalação ou até mesmo durante esse processo, muitos outros se aventuraram a estas terras. Junto com os parceleiros, como eram chamados, vieram vários profissionais liberais, munidos do mesmo propósito, de trabalhar e construir aqui uma nova vida.
Corajosamente, Vera Faccin Carpenedo elaborou o primeiro jornal da cidade, em folha de papel sulfite, indo pessoalmente nos modestos e parcos comércios que se arriscavam por aqui, apresentando seu projeto jornalístico.
Aqueles que chegam em nossa cidade hoje, talvez não tenham conhecimento, e muitos sentem dificuldade para compreender nosso início. Então, eu vos convido a fazermos uma breve viagem pelo tempo comigo.
O que hoje vocês veem como celeiro do mundo, já foi uma comunidade onde houve muita escassez, dificuldades inerentes a um local desabitado. Aqui faltava tudo: água, luz, saneamento básico, comida, produtos de higiene pessoal e doméstica, roupas, lazer, entretenimento, escolas, combustível, ferramentas, meios de locomoção. As pessoas que chegaram aqui na década de oitenta, as quais chamamos hoje de pioneiros, sofreram várias intempéries. E foi da união, do apoio que cada um oferecia ao outro, que a vila foi se tornando município. Cada árvore, cada poste de luz, cada rua aberta, tem o suor dos pioneiros. Esta história é surreal, belíssima e digna de aplausos.
Vera Faccin Carpenedo faz parte desta história. A sua própria história se confunde com a história do município. Hoje, a sua criação – Jornal Folha Verde – faz parte do Patrimônio Material de Lucas do Rio Verde, e a sua “caixinha de memórias”, podemos dizer assim, faz parte do Patrimônio Imaterial.
Vera, você é a própria história. Impossível olhar para você e não se reportar ao passado de nossa cidade. Pois Vera, através do seu Jornal, acompanhou todo o processo da emancipação política, a posse de todos os prefeitos, vereadores, campanhas políticas, fundação e inauguração de órgãos públicos e sociais de Lucas do Rio Verde. É por isso que consagramos a você o título de Guardiã da História Luverdense.
Homenagear você é também estender nossos sinceros cumprimentos a todos os pioneiros. Por suas diversas obras publicadas e por ser a primeira escritora do nosso município, hoje a Academia Luverdense de Letras lança o Primeiro Prêmio Literário da ALL com o seu nome: Vera Faccin Carpenedo. Para nós é uma honra podermos contar com uma pessoa de conhecimento imensurável.
Uma mulher que sempre esteve envolvida em obras sociais, através do trabalho voluntário se doou à construção local com o intuito de transformar a realidade, auxiliando na estruturação de uma cidade mais bela e próspera.
Vera constituiu aqui uma linda família. Casada com Valmor Carpenedo e mãe de três encantadoras mulheres – Camila, Rafaela e Cássia –, com sabedoria, sempre trabalhou e cuidou dos seus e hoje podemos ver que seu empenho não foi em vão, pois aqui se encontram hoje seu esposo, suas filhas, seus genros e netos.
Parabéns, Vera! Você venceu muitas etapas e fases da vossa vida. Com lágrimas, talvez, mas, com certeza, muito esforço e poesia, você pode olhar pelo retrovisor da sua vida e se orgulhar do seu passado, da sua história.
Estendo nossos sinceros cumprimentos à família Faccin e Carpenedo. E vos digo: as pessoas devem receber homenagens em vida. O reconhecimento de um trabalho bem-feito, enquanto podem saborear a vitória e dizer: “valeu a pena”.
Teria muitas outras palavras para pronunciar, mas me despeço por aqui, e convido os recém-empossados acadêmicos, Jaime e Sérgio, para entregarmos uma singela homenagem a Vera Faccin Carpenedo.
Boa noite e muito obrigada!
(Discurso proferido na noite de 22 de março de 2025, durante sessão solene em que a Academia Luverdense de Letras celebrou 15 anos de fundação, deu posse a novos membros e lançou seu primeiro Prêmio Literário)
(*) Maria Cristina Rodrigues Fernandes, graduada em História, Pedagogia, Mestrado em História e Doutora em Psicanálise. No presente momento, no oitavo semestre de Psicologia e Pós - Graduanda em Terapia de Casais com abordagem Psicanalítica. Desde o ano de 2005 até o ano de 2024, assumiu cargos de professora de história, coordenação pedagógica, diretora pedagógica do Colégio Dois Mil. Entre os anos de 2020 até 2024, assumiu o cargo de Presidente da EDULUC - Cooperativa de Professores e Profissionais da Educação. Atuou como professora universitária no Instituto Cuiabano de Educação, como professora de cursos de graduação e pós -graduação lato sensu. Trabalhou para o Grupo Gazeta, na Rádio Cultura FM, 90.7, com a apresentação do programete : “Cultura Aromas e Sabores”. Atualmente trabalha como Psicanalista e com pesquisas relacionadas à memória individual e coletiva, patrimônio alimentar, história oral e temas relacionados à aprendizagem, formação de professores e dinâmica familiar e escolar.