A CAÇAMBA


Eu estava percorrendo uma ruazinha estreita. Estava no meu carrinho, e me deparei com uma caçamba praticamente trancando a entrada na casa. Era uma caçamba desajeitada, com ares de caminhão. Nem era caminhão. Era só uma caçamba, daquelas que o construtor usa para retirar entulhos de construção, ou de outras porcarias, que alguma pessoa deseducada joga na rua.

Encostei o carro no meio fio, e, fiquei olhando aquela caçamba colocada meio diagonal, e, fiquei me perguntando: quem em sã consciência iria colocar uma caçamba no meio do portão? decidi que meu instinto de investigador iria elucidar o enigma.

Fiquei ali, parado dentro do carro, vigiando se apareceria a mente diabólica que colocaria uma caçamba na entrada da casa. Não apareceu ninguém. Decidi ir embora, pois, na verdade eu estava indo tomar uma água de coco na banquinha da senhora, bem vestida, cabelo preso e luvas nas mãos. Sentado num banquinho velho de madeira velha, meu pensamento se voltou lá na caçamba no meio da entrada no portão, lá naquela ruazinha estreita.

Quem será que colocou aquela caçamba? Fiquei pensando que seria algum vizinho casqueiro, daqueles que gosta de uma rusga. Tem vizinho que gosta de uma rusga. Voltei a atenção à senhora bem vestida, cabelo preso e luvas nas mãos. A senhora ficou com a mão estendida em minha direção; eu estava absorto com meus pensamentos naquela caçamba. A senhora me tirou daquele momento de reflexão profunda: _senhor, sua água de coco!

Peguei o coco, e, voltei àquela caçamba no meio da entrada no portão naquela ruazinha estreita. A imagem da caçamba não me saia da cabeça. aquela caçamba, seria da prefeitura? acho que não, eles usam caminhões para recolher entulho. É, definitivamente não seria da prefeitura. Resolvi voltar lá para ver se alguém já teria retirado a caçamba. A caçamba ainda estava lá. Desajeitada, na diagonal, porém, agora cheia de entulho. Ah, sim, havia alguém construindo ali perto, mas por que colocaria uma caçamba na diagonal e bem na entrada da casa. Sei lá, era só uma caçamba.

A água de coco estava boa, mas tive preguiça de voltar na banquinha da senhora bem vestida, de cabelo preso e luvas nas mãos. Sou uma péssimo crônica. Nunca estudei sobre crônica, nem sabia que existia crônicas.

Voltei pra casa pela mesma ruazinha estreita, não havia uma viva alma na rua, era já de noitinha. Estavam todos em casa, descansando depois de um dia árduo de trabalho mal remunerado. E eu também voltei pra casa depois de um dia inteiro perdido, sem fazer nada de útil, pois resolvi desvendar o mistério da caçamba na diagonal na frente do portão da casa. No final, não havia mistério algum, e, eu só retardei minha crônica. Amor, chegue!

 

Por Maria Claro de Sousa, a Poeta do dia.