Crônica

Chique mesmo?
ACADEMIA LUVERDENSE DE LETRAS



Não era só mais um dia no calendário. Era dia solene, da posse tão esperada.
O discurso foi preparado de antemão com esmero nos seus pormenores e a emoção do momento podia já ser sentida.
Escolheu o traje com zelo, antecipadamente. Os sapatos? Só podiam ser aqueles que mais combinavam com a ocasião: bem altos, de salto fino e com um filete dourado; afinal, tinham tudo a ver com o momento - eram chiques! ...e apesar de um bom tempo em desuso estavam em ótimo estado, encontrando naquele evento, o momento perfeito para brilhar.
Enfim, o grande dia!
Salão amplo e posição de destaque dos demais. Nos primeiros passos no ambiente, os pés até pareciam colar no chão...talvez o nervosismo, a emoção. Idas e vindas ao púlpito, homenagens, fotos e abraços.
De súbito, a vista parece ficar turva diante do surreal. Aquele piso mais branco que o Taj Mahal ficara como que marcado com uma espécie de graxa por todo canto, dando pistas do sujeito descuidado...parecia aquela poesia da Cecília Meireles, que fala da menina tonta, toda suja de tinta, enquanto o sol desponta.
As bochechas ardiam como fogo... e o desejo de procurar a mesa que tivesse a toalha mais longa para se esconder debaixo dela - estava distante demais!
Ah...! Cerimônias longas como essas não são raras, contudo, raros são os que preveem que sapatos velhos podem ser melindrosos.
Chique mesmo é ser precavido.

Darcília Lebron, setembro de 2024.