O amor? Ele é prata fina da casa. É o vinho mais encorpado e caro na adega. O amor não tem avessos, tem é uma infinidade de lados, que não seguem uma ordem quando apontam caminhos. O amor não arde, como dizem. Ele traz a sensibilidade que torna apraz o sentimento que bem entender. O amor? Quem dera fosse só calmaria! Traz em si tantos haveres, impossíveis de serem domados. Ele tem lógica própria e unânime, que derruba qualquer conceito fechado ou tentativa de compreensão. Porque o amor não é proposta acordada. Desse amor, que parece tão displicente, é que nascem as clausuras, que instalam tão confortavelmente, que o torna decisão… Porque ele é aposta resoluta, firmada na infinidade de certezas que carrega consigo. Mas o amor não é dúvida? O amor sempre será hesitação, que passará por extremos até encaixar-se, comodamente, na resposta menos pungente que, por si só, buscará equilíbrio. Sim! Porque o amor traz autossuficiência dos sentidos que, freneticamente estimulados, fazem dele essência determinante, que nunca terá explicação. O amor nos encerra, nos revolve e, ciclicamente, nos contextualiza, numa razão que não sentencia. O amor? Ah! O amor é só e tudo isso. É amor, nada mais.
Destinada Nasci em canto sem brilho, Onde a miséria faz cerco, Memória fraca, qual trilho, Cenas que o tempo fez preto. Criança esguia, olhar fundo, Sem fartura nem afeição, Na casa pobre, o mundo, Era penúria, violência e chão. Sonhei crescer, romper fronteiras, Correr pra longe da dor. Guardei meus sonhos em letras, livros, cadernos e lápis de cor. Com estilingue florido Atirei no escuro e fugi De peito aberto e mãos dadas, Buscando vida e fartura, Por outras bandas, longe dali.
Tornei-me protagonista, Voz na luta insana de “des-iguais" Mas vejo reflexos, espelhos, feridas Ignorados por todos deixados pra trás Os que chegam, com olhos de luto, fazem a escassez me cercar Voluntariamente volto ao chão Que um dia quis deixar, Por olhos tão fundos e Outras mãos que ensinam a amar.