Escrever é sempre um desafio. Ninguém quer saber o que eu estou pensando, como eu vejo o mundo, interpreto as coisas ou como gostaria que o mundo fosse. Mas aí está uma questão, ou estão muitas questões: no que alguém diz pode conter alguma fofoca, pode haver alguns pormenores sobre a vida de alguém que façam a diferença saber para poder espalhar, aumentar, distorcer, gerar conflitos, confusões. Não gosto de fofoca, principalmente daquelas que não fui, ainda, informado; pois como pode alguém guardar uma fofoca para si, assim perdeu-se sua finalidade, sua essência. O dia a dia é chato quando não se sabe de nada novo, quando não encontramos pessoas que gostam de falar das outras, mesmo que mal, mesmo que aumentando uns pontos nos contos. Passa tudo mais rápido quando ouvimos histórias e fazemos parte delas as repassando sem nenhuma preocupação se terão algum efeito nocivo para alguém que, obviamente, não sejamos nós. Todos temos histórias para contar, sejam elas vividas, ouvidas ou inventadas. As vividas ganham novas vidas quando compartilhadas; as ouvidas ganham muitas outras vidas quando recontadas, renomeadas e transformadas em muitas outras histórias; as inventadas são as mais ilustrativas, pois criam imagens nunca antes percebidas e que vão muito além da realidade, e por isso mesmo, atendem às expectativas do ouvinte, adaptam-se a cada situação de interlocução, encaixam-se perfeitamente ao perfil do criador e do ouvinte, não se prendem a regras, modelos ou tradições. Mas, como não tolero fofoca, desde que me contem, sofro toda vez que alguém diz que sabe algo de alguém, mas que não pode contar, pois assim como eu, não tolera fofoca. Pode alguém assim? Sádico, alguém que, de propósito, gosta de infligir dor nos outros? Por isso, há pessoas que se orgulham de não serem túmulos, não guardam nada que pode ser compartilhado, nada que pode gerar mais compartilhamento de ideias e permite às pessoas se conhecerem mais profundamente, sem se esconderem por trás de artimanhas humanas que satisfazem a curiosidade própria do homem, quer dizer, talvez, mais própria das mulheres... Se não fosse a facilidade ou necessidade que temos de interagir uns com os outros, possivelmente, maridos, esposas, chefes, patrões, empregados, religiosos, fiéis, amigos passaríamos pela vida sem nos conhecermos de verdade, sem conhecermos do que somos capazes, e não aprenderíamos a nos defender. Um boa fofoca é capaz de produzir coisas inimagináveis, efeitos imponderáveis, atitudes até reprováveis, tudo aquilo que jamais aconteceria se as pessoas conseguissem cuidar tão somente de suas próprias vidas. Não gosto de fofoca... principalmente daquelas que não me contaram...