Santos, Solange O.¹
Vera Terezinha Faccin Carpenedo, nasceu em Caiçara, RS. Em 1980 prestou vestibular para o curso de Comunicação Social na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, onde habilitou-se em Jornalismo. Em 1985 concluiu a Especialização em Educação Popular. No ano de 1986, mudou-se para Lucas do Rio Verde – MT. Trabalhou como editora do Jornal Folha Verde até o ano 2024. Atualmente é vice-presidente da Academia Luverdense de Letras. Sendo a primeira jornalista e escritora de Lucas do Rio Verde – MT. Gotas de Orvalho, seu primeiro livro, apresenta temas sobre o amor, a natureza e ainda, com uma visão crítica, os problemas sociais, observados pela ótica da poesia.
Com destaque para a construção rítmica, a poética de Vera oferece indícios de que a inspiração literária sempre esteve presente em sua vida, desde a adolescência, e no caso de Gotas de Orvalho, revelada por meio de trinta e dois poemas e dez crônicas, nos quais é possível observar suas percepções sobre os lugares em que viveu, histórias, lembranças, ideias, sociologia e política de várias épocas vividas.
Os cenários percebidos pela poeta, preenchidos por ideias e pensamentos, conduzem o leitor a imaginar e viajar pelos detalhes desvendados em palavras, criando e recriando cenários. São as observações da fragilidade e efemeridades da vida que, como gotas de orvalho, podem simbolizar a brevidade das coisas, dos sentimentos, e ainda a fragilidade das emoções humanas e suas interações sociais.
Assim, a obra segue com poemas que despontam um mundo cheio de movimentos, doando ensinamentos e reflexões, o que exibe a importância dos momentos e experiências, assim como uma gota de orvalho.
As folhas de papel
brincam nos ares.
Impulsionadas pela fúria do poeta.
Estão vazias.
Não há nada a escrever.
Basta olhar e ver. (CARPENEDO, 1990, p.20)
Para Candido (1996), o homem que faz poesia conhece o ritmo na natureza e pode tê-lo observado e imitado; e que a associação humana cria tipos de atividades ritmadas que incrementam este conhecimento da cadência. Com isso, ficamos de posse de algumas noções importantes: o ritmo é uma realidade profunda da vida e da sociedade; quando o homem imprime ritmo à sua palavra, para obter efeito estético, está criando um elemento que liga esta palavra ao mundo natural e social; e está criando para esta palavra uma eficácia equivalente à eficácia que o ritmo pode trazer ao gesto humano produtivo. Ritmo é, portanto, elemento essencial à expressão estética nas artes da palavra, sobretudo quando se trata de versos, isto é, um tipo altamente concentrado e atuante de palavra. É o que observamos, por exemplo, nos versos abaixo:
Vi o povo ser oprimido
pela ditadura dos poderosos.
Vi o povo, nas ruas,
clamando por liberdade.
Vi o exército sair dos quartéis
para impedir passeatas inocentes.
Vi o povo vivendo
a miséria e a fome.
Demagogos no poder.
Vi o povo ir às urnas
E mostrar sua força...
Acorda, povo!
Só tu podes conquistar
tua liberdade! (CARPENEDO, 1990, p.38)
Sobre a observação transmutada em palavra, a visão de Hutcheon (2002), na qual o passado não pode ser apagado, e sim, incorporado e modificado, recebendo uma vida, um sentido: novo e diferente. Observamos nos versos de Carpenedo (1990), os contextos histórico, social e ideológico nos quais exerceu sua vivência,
O homem de barba.
A barba do homem.
A barba assusta,
ou serão suas ideias?
Um dia, um barbudo, já revolucionou
O mundo com suas ideias... (CARPENEDO, 1990, p.18)
Segundo Bosi (1977), dizer algo de alguém ou de alguma coisa supõe uma estrutura profunda que se atualiza na série verbal. Sem predicação, o discurso emperra. Sem discurso, a predicação perde o seu melhor apoio para suster-se. Sobreviriam o silêncio ou o gesto quase-figurativo com todos os seus limites, assim também podemos observar nos versos sobre toda manhã:
...Toda a manhã.
É a esperança de vida
que renasce
a cada gota de orvalho.
Em conclusão, Gotas de Orvalho é uma obra que transcende o mero ato de escrever, transformando experiências e observações em poesia e crônica. Vera Carpenedo, nos convida a refletir sobre a fragilidade da vida e a força das emoções humanas, resgata a esperança nas pequenas coisas, como as gotas de orvalho que surgem ao amanhecer. A captura da essência de momentos e realidades sociais faz da leitura um convite à consciência crítica. Assim, a obra se estabelece como um marco significativo na literatura contemporânea, especialmente na produção poética de Lucas do Rio Verde, inspirando novas gerações a valorizarem suas vozes e experiências.
¹Solange Oliveira Santos possui Pedagogia e Biologia, é Pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura no Contexto Escolar (UNIP). Atualmente é professora da rede pública de ensino. E-mail: solangeoliveiraescritora@gmail.com A resenha foi elaborada com objetivo de analisar a obra: Gotas de Orvalho, valorizando a Literatura do Mato Grosso.
Referências Bibliográficas
CARPENEDO, Vera T. F. Gotas de Orvalho. 1° edição. Lucas do Rio Verde: Gráfica e Impressora Rio Verde LTDA, 1990.
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977.
CANDIDO, Antonio. O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas Publicações, 1996.
HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo. História. Teoria. Ficção. Tradução de Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2002.