Gritos ecoam, rasgam o silêncio do mar, Pessoas arrancadas da terra onde sabiam andar. Antes viviam com o sol, a chuva, a liberdade, Agora são sombras, fugindo da eternidade. Trazeram os corpos, mas não a alma, A dor transformada em silêncios e em calma. Mãos que antes tocavam a terra, agora moldam o ferro, Corpos cansados, sem saber o que é o descanso. Choraram no vento, mas o vento não ouvia, E a terra onde nasceram, perdeu a poesia. Fazendo o trabalho que ninguém mais queria, Foram máquinas de dor, mas a alma não morria. Os gritos na noite, as orações esquecidas, Os olhos ainda brilhavam, apesar das feridas. Com o peso do açoite, da mão que não perdoa, Mas com o fogo que queima, que jamais se doa. Levavam o peso, mas não a sua história, Sofriam sem saber que a dor, um dia, seria memória. O povo trazido, sem querer, sem escolha, Mas que encontrou em seu peito, a força que se pretendia O trabalho é feito para os outros, mas a essência é sua, O grito que se calava, hoje, fala com a rua. E ainda que a história tente apagar o que foi vivido, Nos corações pulsantes, o espírito nunca, nunca será jamais perdido.