Memórias de um Povo
ACADEMIA LUVERDENSE DE LETRAS


Gritos ecoam, rasgam o silêncio do mar,
Pessoas arrancadas da terra onde sabiam andar.
Antes viviam com o sol, a chuva, a liberdade,
Agora são sombras, fugindo da eternidade.
Trazeram os corpos, mas não a alma,
A dor transformada em silêncios e em calma.
Mãos que antes tocavam a terra, agora moldam o ferro,
Corpos cansados, sem saber o que é o descanso.
Choraram no vento, mas o vento não ouvia,
E a terra onde nasceram, perdeu a poesia.
Fazendo o trabalho que ninguém mais queria,
Foram máquinas de dor, mas a alma não morria.
Os gritos na noite, as orações esquecidas,
Os olhos ainda brilhavam, apesar das feridas.
Com o peso do açoite, da mão que não perdoa,
Mas com o fogo que queima, que jamais se doa.
Levavam o peso, mas não a sua história,
Sofriam sem saber que a dor, um dia, seria memória.
O povo trazido, sem querer, sem escolha,
Mas que encontrou em seu peito, a força que se pretendia
O trabalho é feito para os outros, mas a essência é sua,
O grito que se calava, hoje, fala com a rua.
E ainda que a história tente apagar o que foi vivido,
Nos corações pulsantes, o espírito nunca, nunca será jamais perdido.

Maycon Rodrigues