ACADEMIA LUVERDENSE DE LETRAS O QUE A POESIA PODE FAZER POR VOCÊ HOJE?
Maria Claro de Sousa¹
1. INTRODUÇÃO Vivemos tempos difíceis. A sociedade sempre viveu tempos difíceis, seja por pandemias, colapso econômico, intolerância em diversos níveis e situações. É da natureza humana as adversidades. Em função dos modelos sociais que o homem inventa para enquadrar a sociedade, sempre houve e haverá dificuldades. E o que fazer para diluir um pouco os efeitos nocivos de algumas práticas sociais? Em 2020 o banco Santander publicou um slogan que sugere uma oferta de socorro aos seus clientes. Em decorrência também da pandemia da Covid19, a economia brasileira, vem sendo sufocada, e quem arca com as consequências é o brasileiro. “O que a gente pode fazer por você hoje”, é a oferta de socorro que o banco oferece aos clientes. Segundo a diretora de marketing e marca do Santander Brasil, Paula Nader explica que a campanha vai tocar em questões contemporâneas e também falar sobre banco e dinheiro. “Tem muito banco que não fala sobre dinheiro. Nós estamos falando sobre isso há muito tempo, o que podemos fazer de melhor para os nossos clientes com oferta de produtos e serviços. (DORES, Kelly, 2016)
Em tese quando alguém oferece ajuda a uma pessoa ela faz sem esperar retorno, apenas com a intenção de minimizar o sofrimento do outro. É uma ação empática. No caso das “ajudas” financeiras que os bancos oferecem aos seus clientes, não há o menor sinal de empatia, uma vez que empréstimos vem sempre acompanhados de juros exorbitantes. Neste trabalho não se pretende julgar ou avaliar a intenção da instituição financeira ao criar o slogan, pretende-se usá-lo como plano de fundo para falarmos sobre a importância da arte na sociedade em tempos de sofrimentos e calamidades. A pretensão é refletir sobre o papel da poesia na vida da sociedade.
2. O QUE A POESIA PODE FAZER POR VOCÊ HOJE?
Quando se faz uma pergunta desse porte reporta-se para outro universo, o da gentileza e da sensibilidade. Hoje, vive-se na geração da rapidez, da pressa, estamos sempre atrasados, e sempre existe algo a ser feito. Com tantas pedras no meio do caminho, fica difícil parar e contemplar a beleza humana. Em tempos de calamidades, usar a sensibilidade poética para aliviar as dores; mostrar que a vida, também, vale a pena ser vivida, quando não é focada só em trabalhar, em acumular dinheiro. Tanto o slogan do banco, quanto nossa pergunta, ambas remetem à mesma resposta, ainda que com intenções diferentes. O que a poesia pode fazer por você hoje? Ela pode enriquecer com palavras, ao mesmo tempo em que se brinca com elas. Para enfrentar e combater certas realidades sociais, muitos artistas se utilizam da lírica, da poesia como sua principal ferramenta na sociedade. Uma caneta, um papel e as palavras são tudo o que os artistas precisam para imprimir sentimentos que muitas vezes parecem impossíveis de serem verbalizados. Entretanto, não é apenas para lidar com as emoções individuais que a poesia transcende a sua universalidade. Muitas vezes é através dessa literatura que realidades duras e enraizadas na sociedade ganham um novo teor que podem se transformar em ferramentas importantes e incisivas para quebrar certas correntes. (CAVALCANTE, Heloisa, 2017). Para a poeta Conceição Evaristo (2018), quando se escreve um texto, uma poesia ou uma prosa também ela apazigua. “A poesia tem o poder de diluir um pouco a dor, diminuir a incompreensão. É um movimento de se expandir e ao mesmo tempo também de recolhimento. É também um processo curativo”. Seja pela sonoridade da voz ou pelo deslize do lápis no papel. A poesia tem o poder de mudar realidades, percebe-se as mudanças que essa arte pode trazer, como a volta da conexão com a esperança e com um pouco de paz em meio a tanto choro. Ela traz vida em meio a tanta mortandade. Hoje, mais do que nunca a humanidade carece do lirismo, da musicalidade dos versos, com suaves metáforas, o que importa é comunicar-se com a vida, interagir com cenários, ainda que cinzento. A universalidade da poesia acaba se reverberando de outro modo a suavizar a vida. Na poesia é possível que se extrapole a dor e caminhar em direção a uma naturalidade de qualquer ser humano. O lirismo é uma forma de combater questões estruturais que cercam a vivência e experiência no mundo. É importante lutar contra a violência e a dor. Os versos não são nem metade da violência que ele encontra nas ruas. A poesia dialoga com as dores das perdas. E a humanidade vislumbra uma luz. Conceição Evaristo diz que dos pequenos aos grandes espaços, a importância da poesia torna-se essencial para intervir na realidade social, se esse texto conseguir realmente promover ou escrever cada um de nós nessa universalidade humana, nessa possibilidade, nesse direito de cada um ser cada um e, ao mesmo tempo, desse cada um ser todos, essa literatura pode conduzir para alguma coisa. (EVARISTO, 2017)
A arte poética entra como uma forma de provocar o caos instaurado. Ela inspira, motiva e emociona. Além disso, mostra que a vida também vale ser vivida em tempos de tensões, de problemas graves, de Pandemia da Covid19. Em tempos tão duros, a poesia pode recuperar essa humanidade que corre perigo. Dessa maneira, o valor da poesia, por um lado, é o convite à apreciação. Um livro de poemas pede que seja lido com calma, saboreando cada verso, tentando relacioná-lo às suas experiências pessoais, voltando a alguns depois de um tempo. Não é algo que se faz às pressas, mas que exige pausa, interpretação e apreciação. Por outro lado, justamente porque permite a construção de símbolos e metáforas, porque brinca com ritmos, sons e com a linguagem, enriquece nossa leitura crítica, nossa capacidade de interpretar e nossa criatividade. “Para crianças pode ser uma aliada essencial ao aprimoramento da competência leitora. Pode também transportar os pequenos a um outro mundo criador, servir como um convite para que criem os próprios versos, para que transformem em verso esse olhar de mundo já tão poético que a criança tem.
BIBLIOGRAFIA Heloisa Cavalcanti. 2017 Cultura em Movimento. 2020 https://propmar.com.br/anunciantes/santander-pergunta-o-que-a-gente-pode-fazer-por-voce-hoje. São Paulo, dezembro de 2007.